Andando por ali, por acolá
Querendo ver o sol que não chega
Querendo ter alguém que não vem.
'Voce foi um dos presentes que a Irlanda me deu.'
Ontem escutei isso como a despedida de um amigo que fiz em Dublin. Mais um foi embora, mais um retornou, mais um que quer tentar o Brasil com olhos agora amadurecidos e coracao mudado.
Isso me fez perceber o quanto as relacoes sao fortes por aqui. Nao sei se por estarmos todos geograficamente distantes da familia e de amigos de longa data; nao sei se por partilharmos as mesmas aventuras; se pelo amadurecimento ser causado pelos mesmos motivos; se por vivenciarmos as mesmas oportunidades; ou pelo modo como aprendemos a viver sem preconceitos, sem a necessidade do fashion, sem a vulgaridade do verao.
Estou na Irlanda ha' mais de tres anos, mas nao faz muito que precisei me acostumar a dizer adeus a verdadeiros amigos que conquistei aqui desde abril de 2004. No inicio, muitos voltaram. Mas nenhum que fizesse parte do meu circulo social, nenhum que escutou minha lamurias, nenhum que tenha criado a necessidade de um encontro semanal pra uma jogar conversa fora, nenhum que tenha se tornado meu companheiro pra todos os shows, musicais, pecas teatrais, eventos esportivos e festinhas diversas, nenhum que tenha sido meu parceiro de aula e estudado comigo pros exames de Cambridge.
Posso contar nos dedos o numero de pessoas especiais que aqui me abandonaram - ate' que chegue a minha hora de abandonar outros tantos. Foi a Amanda, foi a Dani, foram o Ro e a Re, foram a Debora e o Helio, foi o Hugo.
Como e' forte o laco que criamos com algumas pessoas aqui! A impressao que tenho e' a de que no Brasil precisamos de uma vida inteira pra conhecer grandes amigos. Ninguem confia no outro da noite pro dia, e' dificil sair e se apegar, complicado conhecer e se entregar. Aqui, nao. Aqui somos todos iguais e corremos todos atras. Vivemos, sim, de formas diferentes. As oportunidades que me foram dadas sao diferentes das chances de outros imigrantes. Ainda assim, somos a tripulacao do mesmo barco. Quando o mar ta' bravo, sofremos todos e, juntos, lutamos para que ninguem se prejudique. Os enjoos batem, sim, e nem sempre as opinioes sao as mesmas. Saem faiscas dessas relacoes, assim como criam-se momentos felizes por qualquer motivo, grande ou pequeno.
A gente aqui se apega demais. E isso so' e' errado quando percebemos que talvez o tamanho do nosso proprio pais - e os precos para ir de um lado a outro - seja a unica barreira que vai deixar a saudade ainda maior, senao eterna.
Credito da Imagem.