Leinster Rugby

A primeira semana num emprego novo e' sempre parecida. Como nao sei se terei chances de ler e responder emails, ou atualizar o blog, abri uma excecao e vim aqui pra contar rapidamente como foi assistir meu primeiro jogo de rugby ao-vivo.

A partida Leinster Rugby x Queenslands Reds foi divertidissima. Nao apenas pelas pessoas que me acompanharam - algumas delas mais de olho no preparador fisico do time de Dublin do que no jogo em si -, mas tambem pela vitoria dos irlandeses: 39 a 19 sobre a time australiano.

Os meninos nao sao taaaoooo gigantes como parecem na televisao. Com excecao de alguns que, alem de altos, devem ter entrado pra academia aos quatro anos de idade. Uns com faixas sobre a orelha, outros com machucados na perna, sem falar nos ematomas que devem ter espalhados pelo corpo inteiro.

Adorei, quero mais. Quem sabe agora um do Munster, pra ver o Ronan O'Gara de perto. Quem sabe o Six Nations ano que vem. Quem sabe no mesmo estadio de ontem, o Donnybrook Stadium. O que me atrai nao e' nem mesmo numa outra vitoria, mas a oportunidade de fazer parte da torcida azul e verde, comemorar junto e tentar entender um pouco melhor as regras do jogo.

DDFH&B

DDFH&B e' o nome da nova empresa. Do novo trabalho, onde estarao os novos colegas 'a partir de segunda-feira, 1º de setembro. Sim, eu sei que sair da rotina e mudar de vez em quando faz bem e muita gente gosta. Eu mesma sou o tipo de pessoa que precisa de mudancas vez ou outra. Como diz o ditado, "Variety is the spice of life". Precisamos variar, encontrar novos caminhos pra chegar no escritorio, comer algo mais apimentado e menos comum, assistir a um filme que nao e' necessariamente nosso estilo, ir a pe' ao inves de pagar a tarifa do onibus, comprar uma blusa verde, uma calca laranja.

Ta', exagerei!

O que quero dizer e' que a mudanca de emprego eu queria ha' algum tempo e o fato de a empresa onde eu trabalho desde que aqui cheguei estar fechando amanha foi apenas um empurrao para que eu concretizasse meu desejo. Por outro lado, algumas coisas me assustam um pouco. Sim, sou franga em algumas situacoes e me doi admitir. Na proxima segunda-feira chegarei, 'as 9h15 da manha, num lugar onde nao conheco ninguem. Pensarei na melhor rota para fazer e, quando colocar primeiramente meu pe' direito na recepcao, espero encontrar pessoas amigaveis e prestativas. Quero inovar, mas estar segura e me sentir bem-vinda. Quero variedade e desafios, mas nao quero colegas chatos e implicantes. Paciencia tem limites e, com o passar do tempo, percebo que a minha nao tem vida util muito longa.

Apesar do frio na barriga e da ansiedade que nunca me deixa caminhar sozinha, estou otimista. Positiva como sempre. E sei que mudar de emprego e me familiarizar com atividades e pessoas com faces estranhas sera' apenas mais um degrau. Mais um passo a frente, mais uma experiencia, mais um crescimento, uma ruga no rosto, um conteudo novo na cabeca.

Marian Keyes

Com tantos acontecimentos em agosto, esqueci de comentar sobre o book signing da Marian Keyes no domingo, 17. Como fa puxa-saco que sou, nao poderia deixar de comparecer. Ainda mais com o local do evento sendo praticamente do lado da minha casa.

A noite foi divertidissima, com presenca feminina em peso, chocolates, leituras hilarias feitas pela autora - que, inclusive, leu o primeiro capitulo do novo livro ainda a ser publicado - e brindes relacionados `a moda e beleza. Tudo muito mulherzinha. Mari foi comigo e foi otima companhia, rindo como ninguem do sotaque carregado da Marian Keyes, e ainda sendo parceira pra fofocas, fotos e rifas.

O evento, organizado por uma instituicao chamada Focus Ireland, foi para adquirir fundos para os homeless.

O paragrafo abaixo foi retirado do site oficial da Marian, onde ela mesma escreve sobre os eventos mensais da vida de escritora.

Now, can I tell you about Focus Ireland. They are a charity who do great work for the homeless and on Sunday August 17, I’m doing a reading in The Sugar Club, Leeson Street Dublin to raise funds. Its 20 Euro in but it’s in a great cause and I’ll do a great show, I promise. I’ll read and tell stories and answer questions and there will be chocolate and spot prizes and a prize for nicest handbag, so will you come? It’ll be a right laugh and we’ll all feel good for having done an altruistic act. How about it? I’d LOVE if you’d come.

Fotos e videos ainda na camera. Se tudo der certo, posto-os em breve :)

O corre-corre de Agosto

Fim do mes de agosto e ainda nao consigo processar o quao rapido 2008 passa. E vai, corre, sem pensar duas vezes. Agosto foi, provavelmente, um dos meses mais corridos do ano. A comecar pelo numero de maes que resolveram engravidar nove meses antes e ter seus filhos todos na mesma semana - filhos os quais, coincidentemente, sao todos muito meus amigos. Nao tinha como dar desculpa e nao ir nos jantares, festas e comemoracoes dos nascidos no mes oito.

O jantar de aniversario da cunhadinha Heda, foi regado a muito macarrao a bolonhesa, vinho e, de sobremesa, brigadeiro made in Ireland. Tirando o fato de termos nos perdido ate chegar em Milltown e achar a bendita Orwell Gardens, tudo foi perfeito. Ate descer mil pontos depois do ponto correto tornou-se divertido. Adoro ser otimista!

No dia seguinte, festa de aniversario de uma das melhores amigas que fiz na Irlanda, num pub chamado The Porter House, na Grafton Street. Muitas fotos, empurra-empurra, long necks e, de sobra, ainda ganhei um chaveiro e uma jaqueta que alguem, que estava provavelmente bebada demais pra lembrar de levar pra casa. Me serviu como uma luva.

Sabado, mais comemoracoes. Duas festas em uma: Renata, minha flatmate; e Heda; ambas no Break for the Border. Provavelmente uma das melhores noites dos ultimos bons tempos. Uma porcao vegetariana pra dar energias antes de tomarmos conta da pista de danca. Novamente muitas fotos, risadas, cabelo suado e figuras inesqueciveis.

Na mesma semana comecei minhas aulas de defesa-pessoal. Serao 12 aulas, uma por semana, tendo o KravMaga como tecnica principal. Outro dia prometo explicar melhor do que se trata. Pra resumir: e' a tecnica usada com os soldados do Iraque e tem todo um lado psicologico pra acompanhar. Fui em apenas duas aulas ate agora, mas posso dizer que cada vez me impressiono mais. A-do-ro!

Na ultima terca fomos todos ao show do Lenny Kravitz, com participacao mais que especial da Alanis Morissette e do One Republic, no Marley Park. Com a demora do 48A, chegamos a tempo de ver apenas a ultima musica dos meninos [It's too laaate to apologiii-ise. It's too laaaaaate!]. Com tempo ideal pra falar ois, tirar fotos [aniversario da Dani, que logicamente estava por la pra comemorar, ao lado de pessoas fofissimas como Dani e Karina Pina, Ricardo, Monique, Nubia, Fabio e meu Vitinho], ir ao banheiro e comprar a primeira dose da noite. Alanis comecou com Uninvited e tocou por quase uma hora. Dentre as escolhidas, estavam: Eight Easy Steps, You Oughta Know, You Learn, Ironic, Thank You, Head Over Feet e Hand in My Pocket. O fato de ter comprado o ingresso apenas pela presena dela valeu totalmente a pena. Tanto que saimos antes do final do show do Lenny Kravitz, que tambem foi legal, mas o fato de eu nao ser muito ligada ao cantor tornou tudo indiferente. Ao chegarmos em casa, la pela meia-noite e meia, dificil foi encontrar um delivery aberto. Tivemos que apelar ao miojo com atum.

Comprei hoje ingressos para assistir a partida entre Leinster Rugby e Queensland Reds, no proximo sabado, no Donnybrook Stadium. Meu primeiro jogo de rugby, oba =D Mal posso esperar! Em setembro tambem devo acompanhar a super-turma ao Abbey Theatre pra ver "An Ideal Husband", peca de Oscar Wilde. Logo mais temos tambem Evita, no Gaiety; e The Life of Elvis, no Olympia.

Terminei o Twilight Saga e fortemente recomendo - ate mesmo para os que nao sao muito chegamos em livros de fantasia. A indicacao da Bee me deixou com o pe' atras. Nunca gostei de livros ficticios e so' vi Senhor dos Aneis pelo tanto que estava na midia na epoca. Agora, esses quatro livros, meus conceitos mudaram. Posso fcar horas comentando sobre cada um deles, mas darei apenas os titulos e o nome da autora, para que os curiosos depois me digam o que acharam. O primeiro livro da serie e' o "Twilight". Depois vem "New Moon", "Eclipse" e "Breaking Dawn". A autora e' Stephenie Meyer e algo me diz que muitos tem falado dela nos ultimos tempos.

Semana que vem e' a ultima semana na agencia em que trabalho ha mais de dois anos. Por motivos nao muito claros, Grey Helme fechara as portas em Dublin e, mes passado, fez com que os funcionarios corressem desesperados - mas com classe! - atras de novos empregos. Ja tenho meu garantido, mas melhor deixar comentarios pra mais tarde.

Pra fazer um resumao do meu agosto ate agora, aqui vai:
Agencia fechando. Procura por emprego. Entrevistas. Renovacao de visto. Prova. Inscricao pro CPE em dezembro. Lenny Kravitz, Alanis, One Republic. Aniversarios. Vinho, cerveja, coca-light. Musica, fotos, presentes. Leitura. Cachorro fofo encontrado. Recompensa. Jaqueta Nova. Defesa Pessoal. Planos pra teatro em setembro. Ingresso pro meu primeiro jogo de rugby. Cansaco. Trabalho extra. Feliz, feliz, feliz :)

Perceberam o quanto adoro uma vida agitada? :P

Cocker Spaniel

E' esse tipo de coisa que, se voce tem um blog, um diario ou boa memoria, nao se pode deixar de registrar.

De manha, enquanto ia de casa ao ponto de onibus, vi um cocker spaniel andando sozinho. Molhado, um pouco sujo, entre a Merrion Square e a Lower Baggot Street. Quando cheguei no trabalho, vi um poster do mesmo cachorro na loja de conveniencia. Estava perdido ha dois dias.

Pra voces terem uma nocao do quanto ele andou, a distancia daqui ate o centro da, mais ou menos, meia hora a pe.

Liguei para o celular disponivel no poster, dei informacoes sobre onde o havia visto e imaginei se a boa acao seria o caminho para um reencontro.

Agora pouco recebi uma ligacao do dono do cachorro, todo feliz, dizendo que conseguiu encontra-lo. Ae!

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Eu: Hi, I think I may have seen your dog about half an hour ago, between Merrion Square and Lower Baggot Street.
O Dono: OMG. Did it have a collar? Because it wears a collar, but not a lead.
Eu: Yes. Collar, no lead.
O Dono: Where exactly did you see it?
Eu: Do you know where Albany Clinic is? It was wandering around that area.
O Dono: I can't believe it. I used to work there!
Eu: Well, hopefully you'll be able to find it. I've seen it a while ago, so it might not be in the area anymore.
O Dono: Listen, thanks very much for calling. I'll walk around and see if I can find it.
Eu: Not a problem. I really hope I helped you somehow. Good luck.
O Dono: Thanks so much.

E meu voto vai para...

Ensaio este post ha' um certo tempo, com medo de cometer injusticas ou talvez ainda nao conhecer o suficiente para ter a audacia de publicar preferencias nao necessariamente baseadas no 100%.

Por outro lado penso: E dai'?

Esses mais de dois anos vivendo na Irlanda me mostraram tentacoes das quais ate' hoje nao consigo me livrar. Sabe aquela loja na qual voce NAO pode entrar senao compra tudo? Ou aquele lugar onde voce sempre vai e, toda vez que vai, te mostra um lado ainda mais impressionante?

Entao... fiz uma lista. A seguir, os 'mais-mais' de Dublin na minha opiniao. [notem que as chances de eu vir editar as preferencias sao grandes num futuro nao muito longinquo].




Os mais-mais:

. Teatro: em termos de conforto, o Abbey Theatre. Em relacao 'a localizacao, o Gaiety.
. Local para shows: The Point [a partir de dezembro, com novo nome: O2 Arena]. Empatado com o RDS.
. Rua: Clyde Road.
. Regiao: Ballsbridge.
. Estadio: Croke Park [ate o Lansdowne Road ficar pronto].
. Instituicao de Trabalho Voluntario: Friends of the Elderly [embora eu ache que todas facam um trabalho incrivel e seja injusto escolher apenas uma].
. Bem-Bolado: The Sugar Club.
. Lingerie: La Senza.
. Calcas jeans: A-Wear.
. Acessorios: Accessorise.
. Fair Trade: Mira Mira [a loja mais linda do universo!].
. Presentes: Avoca.
. Lembrancinhas da Irlanda: Carrol's.
. CDs e DVDs: HMV.
. Supermercado: Dunnes Stores.
. Convenience Store: Donnybrook Fair.
. Cinema: Dundrum.
. Restaurante: Acapulco [mexicano] e Yamamori [japones]
. Crepes: Lemon.
. Sorveteria: Haagen-Dazs.
. Cafeteria: Cafe Sol.
. Bebida: Chardonnay.
. Nao-Alcoolica: Chai Latte.
. Pub: Howl at the Moon / The Baggot Inn.
. Night: Break for the Border [mas nao tenho muita experiencia no quesito, portanto nao confiem!]
. Parque: Iveagh Gardens.
. Estacao do Ano: Primavera.
. Nome Irish: Niahm, Maeve ou Sinnead.

`As vezes gosto do medo

Pensando bem, acredito `as vezes gostar um pouquinho do medo que sinto de situacoes particulares. Foi assim quando decidi furar meu nariz, foi assim quando fiz minha primeira tatuagem, foi assim quando mergulhei em junho passado.

Por ser muito ansiosa, sinto que necessito modificar minha rotina mais do que o considerado normal para a maioria das pessoas. Talvez a ansiedade excessiva seja a grande culpada, a que me convenceu, a que deixou minha mae de cabelo em pe', quando fiz a primeira tatuagem. Isso foi quando eu tinha 15. Quase 16. Hoje, aos 24, conto oito ao todo.

A historia do piercing nao foge dos padroes. Ja em Dublin, senti que algo faltava. Precisava urgentemente mudar e, apesar do medo da dor e da possivel inflamacao bem no meio da fuca, furei. Foi tudo num impulso. Na verdade, uma segunda tentativa. A primeira vez em que a coragem deu as caras, nao durou muito tempo. Fui, me informei, escolhi a joia. Achei, entao, melhor voltar outro dia, com a desculpa de que estava sem me alimentar desde cedo - um dos requisitos dos profissionais e' que a pessoa tenha feito uma refeicao completa ao menos duas horas antes do 'ato'.

Fui mais decidida na segunda vez, em meados do junho de um ano atras, apesar de a coragem tentar incessantemente escapar por qualquer brecha que achasse possivel. Escolhi a joia, tirei o dinheiro, comi um sanduiche no Subway ao lado. Nao tinha desculpa. Alimentada, endinheirada, decidida - e com o rabo entre as pernas - arrisquei. Era incrivel a fila de pessoas esperando a vez, muitas provavelmente com o mesmo sentimento que o meu. Fui. Finalmente. Nao foi nada perto do que eu esperava. Nem dor, nem enjoo. Somente satisfacao e uma joia fofa do lado esquerdo do nariz cheio de cravos.

O mergulho em Santorini, na Grecia, foi o mais recente dos desafios. Nem o peso do equipamento, nem o balanco do barco, me tiraram a concentracao. Foi entrar na agua pra sentir que mergulhar nao seria apenas um prazer, mas definitivamente uma conquista. Talvez uma das maiores dos ultimos tempos. A sensacao de claustrofobia era de tirar o folego [negativamente, logico]. E ali, em meio a um oceano lindo e gelado, folego era o que eu mais precisava. Foi com a ajuda do fotografo mergulhador que venci o medo e, aos poucos, me acostumei com o peso e o funcionamento de todos os aparelhos sobre meus meros metro e 58 centimetros.

De inicio, descemos apenas seis metros, para praticar tudo o que haviamos escutado pouco antes de entrar na agua. O frio nao tirou minha concentracao e tudo me pareceu relativamente facil e seguro. Quando subimos, o balanco do barco foi mais um empecilho. O enjoo era dos piores, mas nada saiu do meu estomago - embora eu tivesse que fazer um controle mental poderoso para controlar o movimento involuntario do mesmo. Pensei, entao, que nao fosse capaz de fazer o segundo mergulho - 12 metros.

Seria demais novamente pular do barco e controlar meu peso sobre a agua, respirar pela boca e ter a impressao de que, a qualquer momento, um reflexo me faria puxar o ar pelo nariz. Foi esse o momento em que descobri gostar de desafios. Mais do que eu imaginava. Queria continuar e finalizar meu plano. Nao queria desistir.

Ignorei, entao, o enjoo persistente e a calma debaixo d'agua foi como uma recompensa bem-vinda.

A felicidade apos cada conquista, por menor e mais boba que pareca, e' indescritivel. Sempre foi. Sempre sera'.

Ele nao sabe...

Tem uma pessoa.

Uma pessoa a qual vejo quase todos os dias e que me emociona sem saber. So' de olhar, sinto lagrimas aparecerem aos poucos. Timidas. Tristes. Quem sabe ate' um pouco gratas.

Ele nao me ve. Tambem nao sabe quem sou. Sabe muito menos que causa tal sensacao toda vez, no mesmo horario, do mesmo lado de uma rua bastante familiar apos tantas idas e vindas. Eu indo, ele vindo. Ou vice-versa.

Ele deve ter perto de 35, caso nao seja bom de esconder a idade. Cego. Simples. Corajoso. Talvez um pouco aventureiro.

Quase que diariamente, quando faco o trajeto trabalho - escola, o vejo indo para a direcao contraria. A primeira vez que senti meu coracao apertado foi quando, em meio a garoa insistente, o sujeito acidentalmente pisou numa poca d'agua. Hesitou, mas continuou. Talvez a hesitacao tenha sido tao curta que so' eu tenha percebido. Gosto de pensar que sim.

Numa segunda ocasiao, fui pega de surpresa quando ouvi sua voz pela primeira vez. Pedia auxilio para atravessar um cruzamento sem sinal para deficientes visuais.

Hoje em dia, nao precisa fazer nada. O coracao aperta toda vez. A lagrima luta para escorrer livre. As vezes imagino ser muito boba. Tambem acho que tem gente que reclama demais da perfeicao que e' a vida.

Quando eu for...

E, quando leio textos assim, imagino como sera' quando decidir ir embora. De vez.

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso, às vezes cruel porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará, quem sabe, para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento, te supreenderás pensando algo como 'estou contente outra vez'; ou simplesmente 'continuo', porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como 'sempre' ou 'nunca'.

Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. (...) Contidamente, continuamos. E substituímos expressões fatais como 'não resistirei' por outras mais mansas, como 'sei que vai passar'.

Esse é o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência. Claro que, no começo, não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que, no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás, com cuidado, de 'uma ausência'.

Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam; embora saibas que há perdas realmente irreparáveis, e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. (...)"

[Caio Fernando Abreu]