Wednesday, December 20

Se eu disser que 2006 foi um ano ruim, estarei mentindo. Descaradamente. Eu nem teria a audacia de sequer ensaiar palavras parecidas para verbalizar os 11 ultimos meses. Do primeiro ao quarto, meu ano foi marcado por uma fase ansiosa. Estava tudo certo para a partida para Dublin e nao havia mais nada a fazer senao pesquisar sobre a cultura local, tentar saber o maximo de informacoes possiveis e a.guar.dar.

Devo dizer que, para uma pessoa ansiosa como eu, essa palavra significa mais do que possa significar para outros individuos. Aguardar, para mim, eh mais que esperar, mais que ter paciencia, mais que dar tempo ao tempo. Aguardar eh pensar nos pros e contras, eh analisar cada situacao - real ou imaginaria, eh andar de um lado para o outro, como se isso fizesse os ponteiros moverem-se com mais agilidade.

Nos primeiros quatro meses de 2006, deixei um cargo bom na empresa, deixei projetos inacabados e uma pontinha de remorso por nao continuar e ver no que daria. Deixei, tambem neste periodo, o apartamento que me abrigou por aproximadamente tres anos em Florianopolis. Me fez sentir seguranca, me ofereceu conforto, foi humilde nas contas de energia eletrica e me fez subir 11 andares pela escada em epoca de apagao.

Os primeiros quatro formaram uma epoca de desapego forcado. Venda do carro, despedida do trabalho, mudanca de apartamento, mudanca de cidade, um tchau sofrido aos amigos e um ate logo, sem data prevista. Melhor nem comentar sobre a familia, que tanto me ofereceu apoio, forca e inuneras palavras de carinho e dedicacao, que acreditou no meu potencial e que merece muito mais do que atualmente ofereco.

No Dia da Mentira, parti "levando sonhos e o coracao do avesso". Longos voos, rostos desconhecidos, terra fria, chuvosa e, de brinde, muito vento. Fui recebida com chuva de granizo e, cinco minutos mais tarde, o sol. Depois, mais chuva e mais tarde ainda, adivinhem, o sol novamente. Vi carros que nunca havia visto na vida, passei por ruas estranhas, "gente esquisita" dirigindo do lado contrario e paisagens fenomenais.

Aprendi mais ingles do que pensei que pudesse. Conheci muita gente. Me surpreendi com o numero de brasileiros vivendo nessa ilha, com sonhos distintos e, para muitos, distantes. Mas meus sonhos, ah... esses me parecem tao reais e realizaveis que fica ate esnobe dizer aqui que 2006 me proporcionou a realizacao de muitos deles. Morar fora do meu pais, aprimorar uma lingua estrangeira, trabalhar para conseguir pagar as contas e ainda conhecer parte do mundo. Visitei a Belgica e vi, ao vivo, um espetaculo do Cirque du Soleil, pelo qual sempre fui apaixonada. Fui convidada a ir para Londres e pude prestigiar, tambem ao vivo, um jogo de futebol do nosso time contra um dos nossos maiores adversarios - a Argentina. Melhor de tudo: bate-e-volta, tirar fotos com famosos feitos de cera e ver o Brasil ganhar de tres a zero.

Aprendi com erros meus e tambem com erros alheios. Aprendi a nao ter vergonha, a lutar por uma causa, a buscar meus objetivos e concretiza-los. Aprendi a dizer "me desculpe" e "obrigada" com mais honestidade. Aprendi a baixar a cabeca quando estou errada e escutar aqueles com mais experiencia. Aprendi que ir para a aula todos os dias nao e' atitude daqueles que nao tem nada melhor para fazer, mas dos que correm atras de um objetivo: o de conhecer o que ainda nao se conhece. Este mes, fiz o exame avancado de Cambridge e agora resta-me apenas aguardar (de novo, a palavra) dois meses pelo resultado. Independente da letra que me derem, experimentei. Gostei e farei novamente se preciso.

A visita dos meus pais e minha irma foi mais que uma surpresa. Nao no sentido de eu nao saber que vinham, mas no sentindo de te-los aqui comigo, 14 horas distantes do Brasil. Nao ha como descrever a sensacao de, apos sete meses apenas ouvindo suas vozes, poder abraca-los e contar as novidades, alem de leva-los aos pontos que, para mim, ja nao sao mais turisticos.

Voltei a falar com pessoas importantes da minha vida, com as quais nao falava ha um bom tempo, devido a desentendimentos que nos fizeram amadurecer e ver a vida de outra forma. Li otimos livros, entrevistei uma das minhas autores prediletas, conheci bairros, andei de trem, de onibus e a pe, ate sentir os pes doendo. Fui recepcionada extremamente bem pelo povo daqui e aprendi a conviver com estrangeiros vindos nao apenas do Brasil, mas dos quatro cantos do mundo. Aprendi a aceitar certos comportamentos culturais e partilhar a cultura brasileira com os mesmos. Falei, sim, sobre a violencia e a politica, mas falei tambem sobre as belezas e a simplicidade do nosso povo.

Para 2007, se me forem oferecidos 50% dessa alegria, terei mais um ano extremamente feliz.
Um otimo 2007 a todos. Nao posso deixar de agradecer o apoio, a compreensao e as palavras indispensaveis de cada um dos que torceram por mim, pensaram positivo e estao sempre querendo saber mais - ate mesmo os acontecimentos sem graca. Obrigada!

Friday, December 8

Feliz Olhar Novo!

"O grande barato da vida e' olhar para tras e sentir orgulho da sua historia. O grande lance e' viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o aqui e o agora. Claro que a vida prega peças. E' logico que, por vezes, o pneu fura, chove demais...

Mas, pensa so': tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia? Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussao na ida pro trabalho?

Quero viver bem.

Dois mil e seis foi um ano cheio. Foi cheio de coisas boas e realizacoes, mas tambem cheio de problemas e desilusoes. Normal. As vezes se espera demais das pessoas. Normal. A grana que nao veio, o amigo que decepcionou, o amor que acabou. Normal.

Dois mil e sete nao vai ser diferente. Muda o seculo, o milenio muda, mas o homem e' cheio de imperfeicoes. A natureza tem sua personalidade, que nem sempre e' a que a gente deseja. Mas e ai'? Fazer o que? Acabar com seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperanca? O que eu desejo para todos nos e' sabedoria.

E que todos saibamos transformar tudo em uma boa experiencia. Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal-educado. Ele passou na sua vida. Nao pode ser responsavel por um dia ruim. Entender o amigo que nao merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, transforme-o em colega. Alem do mais, a gente provavelmente tambem ja decepcionou alguem.

O nosso desejo nao se realizou? Beleza, nao estava na hora, nao deveria ser a melhor coisa pra esse momento (me lembro sempre de um lance que eu adoro: cuidado com seus desejos. Eles podem se tornar realidade). Chorar de dor, de solidao, de tristeza, faz parte do ser humano. Nao adianta lutar contra isso. Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam diferentes.

Desejo para todo mundo esse olhar especial. 2007 pode ser um ano especial, muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoismos e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoistas, mas podemos entender o outro. 2007 pode ser o maximo, maravilhoso, lindo, espetacular. Ou pode ser puro orgulho! Depende de mim, de voce. Pode ser. E que seja!

Feliz olhar novo!!! Que a virada do ano nao seja somente uma data, mas um momento para repensarmos tudo o que fizemos e que desejamos. Afinal, sonhos e desejos podem se tornar realidade somente se fizermos jus e acreditarmos neles".

[Carlos Drummond Andrade]
 
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