
Por ser muito ansiosa, sinto que necessito modificar minha rotina mais do que o considerado normal para a maioria das pessoas. Talvez a ansiedade excessiva seja a grande culpada, a que me convenceu, a que deixou minha mae de cabelo em pe', quando fiz a primeira tatuagem. Isso foi quando eu tinha 15. Quase 16. Hoje, aos 24, conto oito ao todo.
A historia do piercing nao foge dos padroes. Ja em Dublin, senti que algo faltava. Precisava urgentemente mudar e, apesar do medo da dor e da possivel inflamacao bem no meio da fuca, furei. Foi tudo num impulso. Na verdade, uma segunda tentativa. A primeira vez em que a coragem deu as caras, nao durou muito tempo. Fui, me informei, escolhi a joia. Achei, entao, melhor voltar outro dia, com a desculpa de que estava sem me alimentar desde cedo - um dos requisitos dos profissionais e' que a pessoa tenha feito uma refeicao completa ao menos duas horas antes do 'ato'.
Fui mais decidida na segunda vez, em meados do junho de um ano atras, apesar de a coragem tentar incessantemente escapar por qualquer brecha que achasse possivel. Escolhi a joia, tirei o dinheiro, comi um sanduiche no Subway ao lado. Nao tinha desculpa. Alimentada, endinheirada, decidida - e com o rabo entre as pernas - arrisquei. Era incrivel a fila de pessoas esperando a vez, muitas provavelmente com o mesmo sentimento que o meu. Fui. Finalmente. Nao foi nada perto do que eu esperava. Nem dor, nem enjoo. Somente satisfacao e uma joia fofa do lado esquerdo do nariz cheio de cravos.
O mergulho em Santorini, na Grecia, foi o mais recente dos desafios. Nem o peso do equipamento, nem o balanco do barco, me tiraram a concentracao. Foi entrar na agua pra sentir que mergulhar nao seria apenas um prazer, mas definitivamente uma conquista. Talvez uma das maiores dos ultimos tempos. A sensacao de claustrofobia era de tirar o folego [negativamente, logico]. E ali, em meio a um oceano lindo e gelado, folego era o que eu mais precisava. Foi com a ajuda do fotografo mergulhador que venci o medo e, aos poucos, me acostumei com o peso e o funcionamento de todos os aparelhos sobre meus meros metro e 58 centimetros.
De inicio, descemos apenas seis metros, para praticar tudo o que haviamos escutado pouco antes de entrar na agua. O frio nao tirou minha concentracao e tudo me pareceu relativamente facil e seguro. Quando subimos, o balanco do barco foi mais um empecilho. O enjoo era dos piores, mas nada saiu do meu estomago - embora eu tivesse que fazer um controle mental poderoso para controlar o movimento involuntario do mesmo. Pensei, entao, que nao fosse capaz de fazer o segundo mergulho - 12 metros.
Seria demais novamente pular do barco e controlar meu peso sobre a agua, respirar pela boca e ter a impressao de que, a qualquer momento, um reflexo me faria puxar o ar pelo nariz. Foi esse o momento em que descobri gostar de desafios. Mais do que eu imaginava. Queria continuar e finalizar meu plano. Nao queria desistir.
Ignorei, entao, o enjoo persistente e a calma debaixo d'agua foi como uma recompensa bem-vinda.
A felicidade apos cada conquista, por menor e mais boba que pareca, e' indescritivel. Sempre foi. Sempre sera'.
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