Wednesday, August 13

`As vezes gosto do medo

Pensando bem, acredito `as vezes gostar um pouquinho do medo que sinto de situacoes particulares. Foi assim quando decidi furar meu nariz, foi assim quando fiz minha primeira tatuagem, foi assim quando mergulhei em junho passado.

Por ser muito ansiosa, sinto que necessito modificar minha rotina mais do que o considerado normal para a maioria das pessoas. Talvez a ansiedade excessiva seja a grande culpada, a que me convenceu, a que deixou minha mae de cabelo em pe', quando fiz a primeira tatuagem. Isso foi quando eu tinha 15. Quase 16. Hoje, aos 24, conto oito ao todo.

A historia do piercing nao foge dos padroes. Ja em Dublin, senti que algo faltava. Precisava urgentemente mudar e, apesar do medo da dor e da possivel inflamacao bem no meio da fuca, furei. Foi tudo num impulso. Na verdade, uma segunda tentativa. A primeira vez em que a coragem deu as caras, nao durou muito tempo. Fui, me informei, escolhi a joia. Achei, entao, melhor voltar outro dia, com a desculpa de que estava sem me alimentar desde cedo - um dos requisitos dos profissionais e' que a pessoa tenha feito uma refeicao completa ao menos duas horas antes do 'ato'.

Fui mais decidida na segunda vez, em meados do junho de um ano atras, apesar de a coragem tentar incessantemente escapar por qualquer brecha que achasse possivel. Escolhi a joia, tirei o dinheiro, comi um sanduiche no Subway ao lado. Nao tinha desculpa. Alimentada, endinheirada, decidida - e com o rabo entre as pernas - arrisquei. Era incrivel a fila de pessoas esperando a vez, muitas provavelmente com o mesmo sentimento que o meu. Fui. Finalmente. Nao foi nada perto do que eu esperava. Nem dor, nem enjoo. Somente satisfacao e uma joia fofa do lado esquerdo do nariz cheio de cravos.

O mergulho em Santorini, na Grecia, foi o mais recente dos desafios. Nem o peso do equipamento, nem o balanco do barco, me tiraram a concentracao. Foi entrar na agua pra sentir que mergulhar nao seria apenas um prazer, mas definitivamente uma conquista. Talvez uma das maiores dos ultimos tempos. A sensacao de claustrofobia era de tirar o folego [negativamente, logico]. E ali, em meio a um oceano lindo e gelado, folego era o que eu mais precisava. Foi com a ajuda do fotografo mergulhador que venci o medo e, aos poucos, me acostumei com o peso e o funcionamento de todos os aparelhos sobre meus meros metro e 58 centimetros.

De inicio, descemos apenas seis metros, para praticar tudo o que haviamos escutado pouco antes de entrar na agua. O frio nao tirou minha concentracao e tudo me pareceu relativamente facil e seguro. Quando subimos, o balanco do barco foi mais um empecilho. O enjoo era dos piores, mas nada saiu do meu estomago - embora eu tivesse que fazer um controle mental poderoso para controlar o movimento involuntario do mesmo. Pensei, entao, que nao fosse capaz de fazer o segundo mergulho - 12 metros.

Seria demais novamente pular do barco e controlar meu peso sobre a agua, respirar pela boca e ter a impressao de que, a qualquer momento, um reflexo me faria puxar o ar pelo nariz. Foi esse o momento em que descobri gostar de desafios. Mais do que eu imaginava. Queria continuar e finalizar meu plano. Nao queria desistir.

Ignorei, entao, o enjoo persistente e a calma debaixo d'agua foi como uma recompensa bem-vinda.


A felicidade apos cada conquista, por menor e mais boba que pareca, e' indescritivel. Sempre foi. Sempre sera'.

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